segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Projeto na Amazônia

Estou tendo a felicidade de trabalhar em um projeto de exploração sustentável de madeira na Amazônia. O projeto, certificado pelo FSC, retira da floresta madeira de valor econômico para venda no mercado interno e para exportação. O projeto cobre uma área de 22.000 ha. Em linhas gerais, o processo é o seguinte:

- Primeiro são inventariadas todas as árvores da área. Cada uma delas tem sua espécie identificada e é geo-referenciada em um banco de dados, criado pela Atrium. A partir desse banco de dados, decide-se quais árvores serão cortadas, de maneira a impactar o mínimo possível a floresta.

- Esse plano é submetido aos órgãos competentes dos governos federal e estadual, que emitem, após análise, a autorização de exploração. Todo esse processo pode levar dois anos.

- De posse da autorização, planeja-se o corte, arraste (retirada da floresta) e o transporte até a serraria, onde a madeira é "desdobrada", ou seja, cortada em peças nos formatos para serem comercializadas.

- Toda a operação segue todas as normas legais e também do FSC, que é o instituto responsável pela certificação da empresa.

- Após a exploração de uma área este ano, esta voltará a ser explorada somente em 2042, ou seja, trinta anos após a exploração. Isso garante, com muita folga, tempo para que a floresta se recupere.

Nós, da Atrium, em parceria com outras duas empresas, somos responsáveis não só pelo sistema de gestão das atividades mas também pela gestão da própria exploração. Uma experiência única, da qual eu considero um privilégio fazer parte. Basta dizer que o Fernando Meireles, (ele mesmo, o cineasta cujos filmes já ganharam até Oscar) esteve por lá para filmar o projeto para um documentário do canal NatGeo.

Dona Bete tem dito que eu tô me achando, mas eu já me achava antes, agora eu tô é me tendo certeza... :)

Nos próximos posts vcs verão imagens dessa aventura.

Projeto na Amazônia - Esperando o ônibus da volta



Enquanto o busão Rio Branco-Porto Velho não passa para iniciar a jornada para casa, tirei essas fotos, às 6 da matina.


Castanheira, solitária em meio à pastagem da fazenda em frente ao projeto. Como é proibido o corte os fazendeiros deixam, mas ela sozinha, além de não produzir frutos pela ausência dos insetos polinizadores, acaba morrendo. Esta aí está já "meio-morta", como pode-se ver pelos galhos secos do lado esquerdo. Vi centenas destas mortas ao longo da viagem. Qual a solução? Não sei...


Projeto na Amazônia - Extração de Madeira

Acompanhei a atividade de derrubada de árvores do projeto durante duas tardes. Na última delas, levei a máquina fotográfica e tirei as fotos abaixo:


Motosserrista trabalhando.
Motosserista e auxiliar planejando o corte. É a parte delicada da operação. Eles tem que, de posse do mapa da área e observando o entorno definir a caída natural da árvore e a direção em que esta, ao cair, não irá "detonar" outras árvores importantes como porta-sementes ou espécies protegidas por lei (as quais não podem ser cortadas). Pode-se decidir inclusive nem cortar determinada árvore, pelo risco desta atingir uma espécie protegida, por exemplo.





















Manutenção da motosserra (abastecimento de óleo lubrificante e combustível). Observe o chão forrado com plástico, de maneira a que os derivados de petróleo não entrem em contato com a floresta. Essa regra vale para a motosserra e para um trator, por exemplo.

A caneleira abaixo é para evitar os dentinhos das cobrinhas, ferrões de arainhas e escorpiõezinhos... só na limpeza do pé de uma árvore vi os caras matarem dois escorpiões.





Árvore com placa identificadora. TODAS as árvores da área foram inventariadas, ou seja, tiveram sua espécie e outras características levantadas, georreferenciadas e armazenadas em nosso banco de dados.

Castanheira, espécie protegida por lei.






 No espaço de uma árvore derrubada, agora é possível ver o céu. Com a queda da árvore, o sol passa a atingir o solo diretamente. Aí inicia-se um processo onde as sementes que estão presentes no solo, estimuladas pela presença do sol, começam a germinar, propiciando após alguns anos a ocupação do espaço aberto. É o mesmo processo que ocorre quando da morte natural de uma árvore, ou de sua derrubada pelo vento, por exemplo.
Espinhos pela mata afora. Tem muuuito espinho!
Castanheira.
Abaixo, vídeo que fiz de uma derrubada. Observem pouco depois do meio do vídeo que uma "lasca" de madeira se desprende e crava no chão, próximo da árvore. O corte de árvores nessas condições é um trabalho pesado e de risco, e todos devem estar devidamente treinados e equipados para participar de uma operação dessa.







Projeto na Amazônia - Bicharada





Essa é a Lully, batizada assim pela Rafaela, apesar de eu achar que ela tem cara de Janete. Nos encontramos na primeira noite, ela bem ativa. Achamos que ela iria embora, mas ela voltou e

 dormiu bem no pé da escada. Pela manhã ainda estava dormindo, e nos deu trabalho acordá-la. Aí sim, ela se foi, não apareceu mais.

Consultei a nossa bióloga, a Camila, especialista em animais peçonhentos da amazônia e ela prontamente classificou a Lully: trata-se de uma Oxyrhopus melanogenys, serpente não peçonhenta da família Colubridae, popularmente conhecida como "falsa-coral". Como ela ainda é jovem, ainda não apresenta os anéis semelhantes à sua prima, a coral, essa sim bastante "marvada"...




Dormindo na manhã seguinte.

Após as primeiras horas entendi que a grande possibilidade de acidentes com animais seria com os  insetos. É que a quantidade de abelhas, marimbondos, lagartas etc é muito grande. Esse bichão aí ficava sempre no vidro, do lado de fora da  janela. Depois entendi o que ele ficava fazendo lá: bebendo a água que respingava do ar condicionado.
Um ataque desse bicho garante duas picadas: primeiro a ferroada do bicho, depois a injeção de Fenergan (anti-inflamatório) que vítima vai ter tomar para minimizar as consequências.
A merda é que esse bichinho gosta de caminhar pelo chão. Não sei porque um bicho que tem asa pode gostar de andar. Aí ele entra pelas frestas embaixo das portas de casa e a gente acaba pisando nele no banheiro ou no quarto ao andar descalço. Houve um caso durante a semana passada, uma menina que mora na fazenda pisou em um. Resultado: duas picadas.
Um primo menorzinho mas não menos perigoso passeia pelo teclado.

Mariposa.
Na mata, borboletas, muitas. Difíceis de fotografar, por ariscas e pelo voo todo "errático".















 Cupins em árvore derrubada por nós. O teste de oco (procedimento que verifica se a árvore está oca) revelou a presença dos cupins, mas como um segundo teste feito a um metro e oitenta da base da árvore não indicou o oco, decidiu-se abatê-la. Realmente o ninho, apesar de enorme, não ia acima de 1,5m do tronco.

Insetos no motosserista. São principalmente pequenas abelhas, que vem atrás do sal do nosso suor. Mas tem marimbondo, moscas, etc etc etc. É tanto inseto que às vezes fica difícil conversar, porque os ditos entram pela nossa boca. O que alivia um pouco é a gente se manter em movimento. Repelente? Passei nos dois dias em que fui no mato e não pareceu fazer efeito...






Vocês se lembram daquelas toras da serraria? Olha o tamanho da infestação de cupins que passou a ocupar duas das toras, 3 ou 4 dias depois. Interessante que parecem ser dois tipos de cupins diferentes: um construiu seu ninho usando (me pareceu) a resina extraída da própria árvore. A ocupação vai partindo do meio para as bordas. Na outra tora, a aí embaixo, o bicho vai ocupando pelas beiradas, usando uma outra substância, marrom clara. Eu desmanchei os ninhos, mas eles se formaram de novo em dois dias.

Aí os bichinhos, depois que destruí o ninho.















Projeto na Amazônia - Fazenda

Alojamentos





















Castanheira






Jacas

















Antena de internet do alojamento



























Serraria